Congresso Pernambucano de Clínica Médica

Dados do Trabalho


Título

CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS E A INCIDÊNCIA DE HANSENÍASE EM MULHERES NOS MUNICÍPIOS PERNAMBUCANOS

Fundamentação/Introdução

A hanseníase, patologia infectocontagiosa, é considerada um problema de saúde pública no Brasil, o qual concentra mais de 90% das notificações de novos casos em todo o continente americano. A doença, que já carrega um estigma significativo, agrava ainda mais as desigualdades e vulnerabilidades já enfrentadas pelas mulheres na sociedade, afetando profundamente esse grupo, não apenas fisicamente, mas também psicologicamente e socialmente. Além das mudanças físicas causadas pela doença, como alterações na pele, as mulheres enfrentam desafios complementares que incluem o impacto na autoestima, nas relações afetivas e na capacidade de continuar com suas atividades diárias e trabalho. No contexto da saúde, é fundamental entender a incidência de hanseníase entre as mulheres para atender de forma eficaz suas necessidades específicas e oferecer um cuidado que considere suas particularidades.

Palavras-chave: Estigma; Hanseníase; Municípios de Pernambuco; Saúde da mulher; Taxa de incidência.

Objetivos

Este estudo teve como objetivo analisar a incidência de novos casos de Hanseníase em pessoas do sexo feminino dos municípios pernambucanos com os menores e maiores Índices de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), no ano de 2022.

Delineamento e Métodos

Trata-se de estudo ecológico quantitativo com análise estatística descritiva da incidência das notificações de hanseníase na população feminina dos cinco municípios de maior e de menor Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de Pernambuco, totalizando dez municípios estudados. Os dados foram coletados através das informações disponíveis no Painel de Monitoramento de Indicadores da Hanseníase no Brasil, do Ministério da Saúde, e do Panorama do Censo 2022 do Brasil. As variáveis utilizadas englobaram Unidade Federativa (UF), municípios, IDHM e sexo.

Resultados

Em 2022, o estado de Pernambuco registrou, segundo o Ministério da Saúde, 1.849 novos casos de hanseníase, o que resulta em 2,04 novos casos a cada 10 mil habitantes. Desses 1.849, 929 (50,2%) foram em mulheres, um quantitativo maior do que o encontrado no ano seguinte, em 2023. Os dados analisados na população feminina demonstraram que 341 (36,7%) casos da doença, no ano de 2022, ocorreram nos municípios de maior IDHM, sendo eles: Recife (IDHM 0,772; 181 casos), Olinda (IDMH 0,735; 50 casos), Paulista (IDMH 0,732; 50; casos) e Jaboatão dos Guararapes (IDMH 0,717; 68 casos). Nesses municípios, as incidências da hanseníase - a cada 10 mil habitantes do sexo feminino - foram, em ordem crescente de IDHM: 1,98 (Jaboatão dos Guararapes), 2,29 (Paulista), 2,64 (Olinda) e 2,25 (Recife). A cidade de Fernando de Noronha, apesar de ter o maior IDHM do Estado (IDHM 0,788; 0 casos), não encontra-se listado acima devido à falta casos de hanseníase registrados, logo, incidência nula. Dessa forma, dentre essas cinco cidades, Fernando de Noronha apresentou a menor incidência, seguidos de Jaboatão e Recife, enquanto a cidade de Olinda, a maior incidência da doença.
Os cinco municípios pernambucanos de menor IDHM são: Manari (IDHM 0,487), Jurema (IDHM 0,509), Itaíba (IDHM 0,51), Tupanatinga (IDHM 0,519) e Caetés (IDHM 0,522). A população feminina dos municípios com menor IDHM representa 4,16% da população feminina dos municípios com maior IDHM. Juntos, os municípios de menor IDHM registraram apenas cinco novos casos de hanseníase em mulheres, sendo de Itaíba a maior incidência da doença: 1,83 casos para cada 10 mil habitantes do sexo feminino, seguida de Tupanatinga, 0,73 casos a cada 10 mil habitantes, e Caetés, com 0,7 casos a cada 10 mil habitantes. Os municípios de menor IDHM, Manari e Jurema, não registraram casos de hanseníase no ano de 2022, em ambos os sexos.
Com base nos dados fornecidos, observa-se que, três dos municípios com altos IDHM apresentam uma incidência levemente maior do que a incidência Estadual da hanseníase. Quando trata-se dos municípios com IDHM mais baixo, essa situação não segue uma tendência uniforme. Isso indica que não há uma correlação direta entre os IDHM e a incidência de hanseníase. Por outro lado, as taxas mais elevadas de incidência nos municípios com maior IDHM podem ser explicadas por uma maior testagem e diagnóstico da doença, e o uso deste indicador socioeconômico permite uma análise mais aprofundada dessa subnotificação em municípios com menor IDHM em comparação com aqueles com maior IDHM.
Visto que a população feminina dos municípios de menor IDHM representa apenas 4,16% dos municípios de maior IDHM, é possível encontrar municípios com incidências da doença muito próximas - vide Jaboatão dos Guararapes (1,98) e Itaíba (183). Nessas cidades, mesmo estando em pólos opostos de desenvolvimento humano, deve ser considerada a situação socioeconômica das pacientes, e cogitada a possibilidade de subnotificação da hanseníase para garantir um cuidado integral que leve em conta as particularidades e os desafios específicos, principalmente dentro da população feminina.

Conclusões/Considerações finais

A Hanseníase, por ser uma doença bastante estigmatizada, agrava ainda mais as desigualdades e vulnerabilidades frequentemente enfrentadas pelas mulheres na sociedade. Porém, a incidência da hanseníase não está diretamente relacionada com os baixos valores de IDHM. A subnotificação parece ser um fator importante observado nas cidades com menores recursos, como aqueles apresentados com menores IDH.
É crucial considerar dados regionais e locais ao formular políticas de saúde pública. Esses pontos oferecem uma visão inicial sobre como a hanseníase se distribui em Pernambuco e podem ajudar a direcionar futuras pesquisas e estratégias de saúde pública para o controle da doença. Isso enfatiza a importância de uma análise mais abrangente das possíveis causas dessas subnotificações para construção de uma base de conhecimento mais específica, com direcionamento de políticas de prevenção e diagnóstico da doença.

Área

Tema Livre

Instituições

UNINASSAU - Pernambuco - Brasil

Autores

ALINE DANTAS DE OLIVEIRA, Haissa Beatriz de Andrade Melo, Danielle Augusta de Sá Xerita Maux, Camilla Baldin Novaes Lima