Dados do Trabalho

Título

MIOCARDITE EM PACIENTE COM LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: UM RELATO DE CASO

Introdução/Fundamentos

A miocardite é uma complicação cardíaca não-coronariana do Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), com espectro de gravidade que varia entre casos oligossintomáticos, até choque cardiogênico. No entanto, a ocorrência de miocardite em paciente com LES deve suscitar hipóteses que vão além da atividade da doença autoimune: causas infecciosas ou decorrentes do uso crônico de antimaláricos também devem ser elencadas.

Objetivos

Relatar caso clínico de paciente jovem com LES que evoluiu com sintomas subagudos de insuficiência cardíaca e dor torácica, bem como elencar principais diagnósticos diferenciais relacionados.

Descrição do Caso

Mulher, 40 anos, com diagnóstico de LES há 15 anos e em uso regular de azatioprina, com SLEDAI-2K=0, apresentou-se com quadro de edema de membros inferiores, taquicardia sustentada, dispneia aos moderados esforços e dor torácica não anginosa há 2 meses. À admissão hospitalar, referiu episódio autolimitado de febre e tosse não produtiva que precederam início dos sintomas supracitados em duas semanas. Diante de baixa probabilidade clínica e eletrocardiográfica de evento coronariano justificando os sintomas, foi solicitado novo ecocardiograma, que evidenciou função sistólica do ventrículo esquerdo deprimida em grau discreto, além de hipocinesia discreta em segmentos inferior basal e septo inferior médio-basal. A investigação foi ampliada com solicitação de ressonância magnética cardíaca, que evidenciou achados sugestivos de miocardiopatia de etiologia inflamatória, com acometimento predominante do ventrículo esquerdo, bem como derrame pericárdico mínimo. Foi realizada a reconciliação do antimalárico e fornecido suporte clínico e multiprofissional em enfermaria, com melhora progressiva dos sintomas e alta hospitalar após estabilidade clínica, com diagnóstico final de miocardite pós-viral.

Conclusões/Considerações Finais

A diferenciação entre miocardite viral e autoimune em pacientes com LES é desafiadora e requer marcadores sorológicos ou histopatológicos frequentemente indisponíveis no sistema público de saúde. No presente caso, a ausência de atividade de doença lúpica e a história clínica de infecção viral prévia autolimitada sugeriram etiologia pós-viral para a miocardite. Além disso, o passo fundamental na investigação é a exclusão de eventos isquêmicos como deflagradores de insuficiência cardíaca, haja vista o alto risco cardiovascular inerente ao processo inflamatório crônico do LES.