Dados do Trabalho

Título

Apresentação Rara de Insuficiência Aórtica Grave em Paciente com Lúpus Eritematoso Sistêmico

Introdução/Fundamentos

O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica e autoimune com manifestações sistêmicas e cardiovasculares, como a endocardite de Libman-Sacks. Trata-se de uma doença comumente associada à Síndrome de Anticorpo Antifosfolípide (SAAF) e ao acometimento da valva mitral, além de outras valvopatias, como insuficiência aórtica (IAo), e eventos tromboembólicos. Tende a ser assintomática e apresentar vegetação em valva mitral e/ou aórtica em imagem ecocardiográfica, o que dificulta sua diferenciação com endocardite infecciosa (EI), sendo o diagnóstico de exclusão ou acidental.

Objetivos

Relatar apresentação atípica de IAo secundária a LES em paciente jovem sem SAAF associada.

Descrição do Caso

Mulher de 29 anos, portadora de LES, em uso de ciclosporina, com episódios de lipotimia e dispneia progressiva há 6 meses da admissão. Na consulta reumatológica, foi flagrada PA divergente (140 x 20 mmHg), sopro diastólico em foco aórtico, sinais de congestão pulmonar, febre de início recente e perda ponderal, sendo encaminhada ao serviço de cardiologia, onde aventou-se a possibilidade de IAo secundária à EI por imunossupressão. Foi realizado ecocardiograma transtorácico (ECOTT), que evidenciou IAo importante (VC 0,9 cm, PHT 190 ms e fluxo diastólico reverso em aorta abdominal), confirmada pelo ecocardiograma transesofágico, além de imagem sugestiva de vegetação, sendo iniciado protocolo para EI com antibioticoterapia empírica (ceftriaxona, oxacilina e gentamicina) e hemoculturas seriadas, sem evidência de crescimento bacteriano ou fúngico. Devido à IAo grave e sintomática, foi realizada troca valvar aórtica metálica sem intercorrências e sem relato de vegetações, apenas de achados inflamatórios em tecido valvar nativo e estruturas adjacentes (teto atrial esquerdo e raiz de aorta) e descrição de material esponjoso em região peri-aórtica. Afastou-se, então, a hipótese de EI, considerando atividade de doença lúpica com acometimento valvar, sendo retomada a imunossupressão, mas com azatioprina. A paciente evoluiu clínica e hemodinamicamente estável sem novos episódios de toxemia, repetiu ECOTT, destacando mecanoprótese aórtica normofuncionante, e recebeu alta, em uso de varfarina e ciclosporina, para seguimento ambulatorial.

Conclusões/Considerações Finais

O caso destaca uma forma atípica e grave de apresentação de IAo associada a LES, reiterando a importância do diagnóstico diferencial com EI e manejo adequado para um melhor prognóstico da paciente.